domingo, 19 de maio de 2013

Ultra Trail da Geira Romana

A história começa em Caldelas, vila termal, onde ficamos a dormir na pensão "Corredoura".
Fomos muito bem recebidos pelo senhor Alexandre, que além dos disponibilizar uma bebida de oferta (bebida esta em que deixou a garrafa para refills) ainda abriu o pequeno-almoço no dia da prova às 5:30 para os atletas que ali pernoitavam.

Nem foi preciso despertador, o pessoal do quarto do lado era madrugador e ás 4:50 já estavam em preparativos para sair. Ainda fiquei um pouco mais na cama, pois já tinha deixado quase tudo preparado na noite anterior. Eram 5:35 estava no salão de pequeno almoço, onde já se encontravam outros atletas.

Enquanto tomávamos o pequeno-almoço dos campeões, pergunta a senhora da pensão :
Sra : De que se trata a vossa prova ? É alguma prova de ciclismo ?
Eu : É uma prova de corrida de montanha.
Sra : E em que consiste a prova ?
Eu : Bem, a ideia é irmos de autocarro até aos Baños em Lobios, e depois voltar a correr.
Sra : Ahhh, e ainda não uns quilometros, não ?
Eu : Sim... São cerca de 53...
Sra : Voltam até AQUI ?!?!??!

No seu ar ainda incrédulo, desejou-nos a todos uma boa prova.

Juntando-me ao grupo do pequeno-almoço, percorrermos os cerca de  400 metros até ao local da partida dos autocarros, onde já se encontravam bastantes atletas. Um autocarro grande acabava de sair, e fomos imediatamente encaminhados para uma carrinha de transporte escolar, daquelas com aí uns 12 lugares. Dentro da carrinha estava o Albino Daniel (Albinix) que é nada mais nada menos que o vencedor do Ultra-Trilhos do Paleozoico (empatado com o Carlos Sá), e mais recentemente vencedor dos 101 Peregrinos (Uma famosa prova de 101km em Espanha).
No autocarro trocavam-se histórias, e comecei a aperceber-me que todos lá (menos eu) já tinham participado em provas de 3 digitos... comecei-me a preocupar ligeiramente.

Chegados a Baños, estava um frio desgraçado, estando a concentração dos atleta ou junto à piscina termal ou no café em frente.



No café encontrei algum pessoal conhecido de vista, pessoal de Valongo, porto-runners, Leões do Veneza, o Luís Pires acabadinho de chegar dos 100km do Ultra-Trail de São Mamede do dia anterior... Em suma, comecei-me a preocupar mais ligeiramente e a pensar : vou ficar em último outra vez !
Não que tenha algum problema em ficar em último, assim como o primeiro, alguém tem de o ser, e estar na mesma prova que aqueles super-homens enchia-me de orgulho a cada segundo que passava.
Este tipo de provas é bastante duro por si só, do primeiro ao último há uma sensação de orgulho enorme, não há vergonha nem desculpas esfarrapadas ou auto-pena, há sim uma sensação enorme de satisfação pessoal.

No pequeno grupo em que fiquei à conversa tinha desde atletas de top 10, a últimos classificados (eu) e o facto de ser possível todos partilharem parvoíces e histórias de provas passadas é algo que me agrada muito neste tipo de provas.


Aproximava-se a hora da partida, checkpoint0 junto do exército romano.



Discurso de César, incluindo briefing sobre as marcações existentes na prova, e umas palavras da representante da Câmara Municipal de Lobios.

Seguem-se uns Avé César, e pomos pés ao caminho. Os primeiros quilómetros são bastante duros, em subida constante de 8km, feita completamente em trilho até à fronteira na Portela do Homem.

Em diversos pontos do trajecto surgia um legionário romano de armadura vestida a incentivar o pessoal.
Apesar deste incentivo sofri bastante nesta parte, fazia parte do meu plano fazer esta subida com muita calma e gestão de esforço, pois o caminho é longo. Mesmo a tentar gerir o esforço tive problemas musculares, não sei se do frio ou resquícios da gripe, sofri bastante das canelas que tardavam em aquecer, mas sempre confiante de que depois de o corpo aquecer a coisa iria ao sítio.


Chegado à fronteira, um abastecimento de líquidos, e regressar à Geira, entravamos agora em descida, e as canelas tinham o merecido descanso.
Comecei-me a sentir melhor, e nas zonas em que o trilho era mais limpo, ou onde apanhávamos o estradão até consegui fazer uns km's mais rápidos.
Apesar das ameaças de chuva, o tempo estava excelente, e as paisagens brutais, foi uma prova que começava agora a desfrutar ao máximo.
A prova estava muito bem organizada, apesar de me ter perdido numa parte em que atravessamos a estrada, estava bem sinalizada, bastantes abastecimentos e muitos socorristas percorriam os trilhos de BTT a acompanhar e ajudar os necessitados, quer por queda ou outro motivo.

Pelo caminho fui telefonando à MQT a indicar da localização e previsão de chegada, e até para informar que um dos abastecimentos, que ficava localizado num museu tinha CASA DE BANHO ! Algo que nunca tinha visto em prova.


A partir aí do quilómetros 40, comecei-me a sentir mais dorido, e comecei a caminhar nas subidas e a entrar em modo de sobrevivência. O tempo que estava a fazer era bom, e tinha margem mais do que suficiente para chegar dentro do tempo limite, portanto havia que gerir de maneira a evitar acidentes e chegar nas melhores condições possíveis, apesar do empeno.

Como não poderia deixar de ser numa organização "Confraria Trotamontes" nos últimos kms fomos brindados com uma parede, quase de alpinismo (ou assim parecia com os kms nas pernas) até ao cimo do monte (cimo mesmo, daqueles onde há antenas e coisas assim) para depois descer abruptamente por entre pedra solta e molhada até ao rio.
O ultimo km, esse sim, percorrido dentro de água, para iniciar a crioterapia.

Na parte final da prova começou a cair uma chuvada daquelas, mas como o final estava próximo já nada me iria desmotivar.
Chegado à parte do rio fui brindado com uma enorme surpresa, apesar da chuva, a MQT marcava presença na margem, faltavam poucos metros...







A chegada, abençoada com muita chuvinha, e mais um pouco de corrida conforme possível até à pensão para fugir ao frio.

Foi sem dúvida a prova onde mais me diverti e mais apreciei a corrida, paisagens brutais, boas sensações, perder-me, não cair, apesar de encontros breves com outros atletas, e com os socorristas em BTT, na grande maioria da prova andei sozinho, ainda assim foram 7h21m de enorme gozo e satisfação pessoal.

A organização foi impecável, e esta é sem dúvida uma prova que gostaria de repetir.

Em relação a equipamento e tralhas, tudo funcionou 5 estrelas.
O garmin apesar das ameaças de bateria fraca aguentou-se até ao fim.
As sapatilhas da INOV-8 agarram-se a tudo, às vezes até demais, pois perdi uma sapatilha num lamaçal e tive que ir descalço recuperá-la. Mesmo em pedra molhada agarram-se bem, o que me permitiu chegar ao fim com 0 quedas.
De resto, a mochila da Salomon continua impecável, e o equipamento de trail da Compressport aprova.
Luvas foi uma grande ideia ! Além de servirem para me aquecer no muito frio inicial, são boa ideia para proteger as mãos enquanto se afastam silvas e vegetações, ou enquanto usamos as mãos para ajudar a trepar por entre pedras e raízes.

Resta agradecer mais uma vez a companhia, apoio, incentivo, fotografias (e molha para as obter) da MQT, sem a qual nada disto teria o mesmo valor.

7 comentários:

  1. :) Não só fotografar mas também informar em qual das beira rio (importantíssimo, não?!:S) se deveriam deslocar!!! O sr. que vinha à tua frente também ficou surpreendido e até me agradeceu, 'tadinho! :)

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    1. A acrescentar esse facto, importantíssimo prevenir pernas partidas :D

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  2. É caso para dizer: parabéns! :)

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  3. Muitos parabéns! Gostamos dos relatos!Imagino as sensações de ver essas lindas paisagens!
    Haja Coragem!

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  4. Boas Paulo, muitos parabéns pelo prova superada e pelo excelente relato. E desculpa lá a barulheira no quarto ao lado, mas tens que concordar que já era hora de acordar :D
    Abraço e boas corridas

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    1. Hehehehe, pois, concordo ! Assim nem precisei de despertador !

      A minha próxima deverá ser o Ultra nocturno de Óbidos, se vocês forem podemos tentar combinar qualquer coisa !
      Abraço !

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